sexta-feira, 6 de maio de 2016

Proximidade



(...) A única forma de tomar de mãos dadas, com os meus doentes, o fim das suas vidas, é permanecer quieta, de insígnia branca hasteada no pensamento e, qual desistente, ser tranquila por dentro.
Na minha prática da terapia, há um constante questionar sobre cada sílaba, cada gesto e olhar, uma auto-crítica permanente sobre as palavras proferidas e as não ditas, o porquê de umas e de outras, uma ausência que se apodera do meu corpo para ser “o outro” e, no seu estado mais completo e distante, eu tento ser, com efeito, a pessoa que acompanho.
Agora, esta prática torna-se ainda mais apurada e profunda. Se, em todo o caso, o meu doente ficar tão próximo que a sua dor se cole nas minhas entranhas, eu não estarei preparada para cumprir este objectivo: ajudar os meus doentes e, na sua mais íntima agonia, permitir que eles contemplem o que há de melhor nas suas vidas.
E, contudo, haverá outra forma que não essa colagem autêntica do outro em mim? (...)

(Fernanda Barata)
Elos Vida – Hospital em Casa
918 53 44 55 / geral@elosvida.pt

Sem comentários:

Enviar um comentário